A história do conflito Israel x Palestina em Gaza
- jornalcedsigma
- 14 de mai. de 2024
- 4 min de leitura
Terror, covardia, monstruosidade e falta de humanidade são palavras insuficientes para descrever o conflito árabe-israelense que teve início no dia 7 de outubro de 2023. Visando à uma melhor compreensão da guerra, devem ser analisadas as origens do conflito e o papel das nações envolvidas no embate político-religioso que ocorre majoritariamente na Faixa de Gaza.
A iniciativa de repartição do território palestino em 1947, a partir do Plano de Partilha da ONU (Resolução 181), foi fomentada pela exposição das políticas antissemitas radicais implementadas na Alemanha nazista, cuja finalidade tangenciava a limpeza étnica na Europa. A reunião ocorreu na Assembleia Geral das Nações Unidas e foi presidida pelo diplomata brasileiro Oswaldo Aranha.
Em 14 de maio de 1948, o Estado de Israel foi fundado e reconhecido internacionalmente, exceto por um acordo político entre Egito, Síria, Transjordânia (atual Jordânia) e Iraque. Esses países protagonizaram a primeira de muitas invasões militares contra Israel. Esse conflito ficou conhecido como Guerra de Independência, contribuindo para a expansão territorial israelense. Neste ano, mais de 700 mil palestinos foram incentivados a abandonarem seus lares por medo.
Durante diversos outros anos de guerra, os quais foram palco para a formação territorial do Oriente Médio, Israel foi capaz de preservar sua hegemonia contra o povo palestino e apropriou-se de territórios além dos que foram propostos na Resolução 181, em hostilidades que ficaram conhecidas como Guerra dos Seis Dias (1967) e Guerra do Yom Kippur (1973). O aumento das tensões levou ao então presidente norte-americano, Jimmy Carter, à tentar cessar as preocupações globais em relação ao Oriente Médio com o que ficou conhecido como os Acordos de Camp David, onde foi acordado que Israel faria a devolução dos países por ele tomados.
Todavia, a população palestina, insatisfeita com os assentamentos ilegais israelenses em seu território, revoltou-se contra Israel nas conhecidas Intifadas (1987 a 1993, e em 2000). A solução mediada pelos Estados Unidos foi denominada de Acordos de Oslo. Contudo, ela pouco configurava o que deveria ser feito em relação aos assentamentos, caracterizando um certo fracasso desse tratado. Enquanto suas demandas eram negligenciadas, tornaram-se normais imagens de civis palestinos defrontando o exército israelense com pedras.
Muhammad Al Durrah, de 12 anos, e seu pai, Jamal Al Durrah, momentos antes de serem mortos pelo exército israelense durante a Segunda Intifada.
O questionamento acerca do conflito na contemporaneidade deve levar em consideração a historicidade bélica da região. Nesse tocante, torna-se nítida a banalidade do mal, que de acordo com Hannah Arendt, os conceitos de ética são meras efemeridades em que não há responsabilização efetiva pelas ações contra a humanidade.
Em prol de um entendimento, agora sobre o conflito nos dias atuais, devem ser compreendidas as motivações do Hamas em realizar uma incursão terrorista contra Israel em outubro de 2023. Mas o que é o Hamas? O Hamas, cujo significado é “Movimento de Resistência Islâmica”, nasceu durante a primeira Intifada (1987) com o objetivo de assumir o posto legislativo da Autoridade Nacional Palestina (ANP), responsável por representar internacionalmente os interesses palestinos. Venceu as eleições na Faixa de Gaza em 2007, mesmo sendo considerado um grupo terrorista por grande parte dos países anglo-saxões e europeus.
É importante ressaltar que o Hamas não é reconhecido pela ONU como um grupo terrorista, mas sim como um grupo militante. Sob essa ótica, e de exímia notabilidade que sejam destacadas as ambições do grupo que consistem, para além de ações anti-sionistas, na abolição do Estado de Israel, considerado terrorista e ilegítimo. Visando à destruição de um Estado soberano, o Hamas é repreendido pelas nações que aspiram a manutenção do Estado de Israel como hegemônico no Oriente Médio.
A ação militar feita pelo Hamas em outubro de 2023, quando em ato de terrorismo, invadiu Israel e matou mais de mil civis, sem justificativa, foi vista pela comunidade internacional como uma oportunidade israelense de expandir suas fronteiras, e assim, condenar o ataque.
Mas qual o real propósito de Israel nesse conflito? Sob o prisma do nacionalismo exacerbado de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, a finalidade do conflito é a limpeza étnica do povo palestino. Tal política tem seu apoio consolidado sob as pautas conservadoras e de extrema direita do globo.
O extermínio sistemático do povo palestino parece assumir a pífia caracterização de “efeitos colaterais” de uma guerra. Porém, aquilo que se denomina como tais, são crianças as quais em menos de seis meses de conflitos já somam mais de 12.000 vítimas. E, contudo, não parece haver mobilização efetiva dos órgãos internacionais em amenizar a situação. O Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), reunido, em teoria, para se fazerem cumprir o Direito Internacional Humanitário (DIH), não consegue mobilizar um cessar-fogo temporário de modo convicto em Gaza.
Netanyahu tem aval de grande parte da comunidade internacional para a manutenção de sua “Guerra contra o Hamas”, e de fato, o terrorismo tem de ser combatido, mas em que medida estão os civis, os não combatentes, aliados ao Hamas?
As ações sionistas de Israel devem ser avaliadas como crimes contra a humanidade, assim como o Hamas tem que ser reconhecido como a organização terrorista que se propõe a ser. Mas quem poderá julgá-los por seus atos se a Corte Internacional de Justiça (CIJ) e o Tribunal Penal Internacional (TPI) não têm autoridade para julgar aqueles que não são ratificantes do Estatuto de Roma (EUA, Rússia, China, Índia e Israel)? É como se os crimes contra a vida fossem censurados sem que haja, de fato, um Leviatã moral capaz de efetivar punições às nações responsáveis. Assim, a ONU perde sua credibilidade.
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