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A Evolução da Classificação dos Espectros Políticos

Por Pedro Henrique

Os espectros políticos surgiram com a necessidade de classificar as opiniões das pessoas, tendo o objetivo de facilitar o debate público. Ao declarar sua posição, assumiria para si uma série de ideias e de posicionamentos de uma só vez, dinamizando a discussão e a transmissão de informação. Ao longo do tempo, diversos sistemas foram criados para abranger a constante renovação e a diversificação do pensamento político da sociedade, chegando ao ponto em que muitos deles se tornaram obsoletos, e, ao invés de facilitar o entendimento do debate público, tornam-no reducionista e raso.

Para exemplificar esse efeito, há uma linha do tempo com as principais evoluções para que se compreenda como o processo ocorre.

 

“Esquerda e Direita”

Caracteriza-se como um eixo, tendo dois pontos aos extremos, direito e esquerda, além do centro. Surge no século XVIII, na França, relacionado à disposição dos membros da assembleia nacional em relação ao rei. Aqueles, à direita, eram caracterizados pela defesa da monarquia e controle das liberdades econômicas e individuais; aqueles, à esquerda, eram vistos como defensores de ideias radicais da época como o fim do sistema monárquico e o aumento das liberdades econômicas e sociais. Traçar um paralelo dessas ideias com os atuais conceitos de direita e esquerda demonstra o quão ressignificados foram ao longo da história. Esse anacronismo temporal ocorre devido a diversas razões, mas, em especial, destaca-se a percepção da atuação do Estado na sociedade, a direita prega a redução de sua intervenção no meio econômico, e a esquerda apoia uma visão intervencionista econômica e uma maior liberdade individual. Apesar de que ambas as liberdades também são defendidas por uma parcela dos dois, os liberais. A partir dessas características,  avançamos ao próximo sistema.

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Diagrama de Nolan


O diagrama de Nolan foi criado em 1969 pelo Ancap David Nolan em conjunto com o psicológico Bob Altemeyer e o sociólogo Theodor W. Adorno. Ele apresenta um plano cartesiano dividido por dois eixos, mostrando assim quatro classificações: direita, esquerda, liberal e autoritário; além de inúmeros pontos de convergência entre elas. Ressaltando que, nesse modelo, os termos direita e esquerda se referem exclusivamente à liberdade econômica e individual, respectivamente. Liberal e autoritário se referem ao tamanho do Estado defendido por cada indivíduo, defender ambas as liberdades o aproxima do espectro liberal e apoiar o controle das duas do espectro autoritário. Apesar de muito melhor que “Esquerda e Direita”, também apresenta suas limitações, temas mais específicos acabam sendo colocados à parte, integrando uma percepção de senso comum em relação ao todo. Aspectos relacionados à justiça, ao meio ambiente e à revolução; por exemplo.

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8values + PolitiScales

A partir dessas lacunas, surgiram novos métodos de classificação, diferentes dos últimos criados há séculos. Esses têm um intervalo de tempo menor que uma década permitindo uma maior proximidade com nossa realidade. Dentre eles, há o 8values e o PolitiScales, ambos compartilham da mesma metodologia. Escolhem um tema com duas posições diametralmente opostas, estabelecendo uma porcentagem de quanto se defende cada aspecto. Assuntos mais complexos e que eram negligenciados, apesar de sua importância para o debate na atualidade, são levantados, permitindo, assim, um aprofundamento e amadurecimento da discussão.

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Opinião Pessoal

Quanto maior o avanço desses sistemas, mais perceptível é a complexidade inerente ao pensamento humano. Apesar dessas ferramentas se mostrarem úteis para a dinamização e aprofundamento do debate, elas também podem ter o efeito contrário. No momento em que o debate técnico e acadêmico é sufocado por visões moralistas e dogmáticas, esses sistemas acabam se tornando armas para instrumentalização das massas e destroem completamente o debate público. Efeitos disso são o julgamento da índole e do caráter de um indivíduo por meio de seu posicionamento político e associação de bem o mal a um determinado espectro. Esses comportamentos são indícios de uma sociedade doente, incapaz de lidar com a pluralismo de ideias e que se destrói de dentro para fora. Aceitar a diversidade e a complexidade da natureza humana é a base para qualquer democracia; negar isso é negar a sua própria humanidade e tragar a sociedade consigo. É primordial, portanto, fazer parte e defender ideias de movimentos que tentem construir algo melhor e duradouro. Esses grupos atraem pessoas guiadas pela esperança de um mundo melhor, convictas em seus ideais e entusiasmadas em compartilhá-los. Essa é a chave para a prosperidade, é um longo caminho, mas é a coisa certa a se fazer.

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