Novo ensino médio: vilão ou herói?
Camila Barros

Durante o governo Temer, uma medida provisória com o propósito de reformular o Ensino Médio foi aprovada, prevista para ser implementada gradativamente de 2022 a 2024. O Novo Ensino Médio ou NEM, como ficou conhecido, tinha o objetivo de oferecer protagonismo ao aluno, dando a ele a liberdade de escolher entre áreas de aprofundamento, geralmente ciências humanas e ciências exatas, desse jeito, minimizando a evasão escolar.
Logo quando a reformulação foi proposta, em 2017, ela foi duramente criticada pela comunidade escolar. Segundo a União Nacional de Estudantes (UNE), a medida foi autoritária e não ouviu as entidades educacionais e estudantis. Já que a medida foi provisória, não levou em consideração os interesses da sociedade. Essa falta de diálogo se mostra evidente em uma pesquisa que o SENAI e a SESI realizaram, que apontou que 55% da população tem pouco ou nenhum conhecimento acerca das mudanças feitas pelo NEM.
Mas, mesmo depois da pandemia, que causou um déficit de educação tremendo entre os alunos, a implementação foi aprovada e só piorou o que já estava ruim. Agora que só tinha algumas matérias consideradas obrigatórias, as escolas poderiam escolher preencher a nova carga horária de 800 horas de aula com quais matérias achassem pertinentes. O problema é que, com a falta de treinamento de professores e falta de diretrizes mais rígidas, em centros educacionais, principalmente os públicos, cursos importantes como história e sociologia foram sendo excluídos da formação geral básica dos alunos, em detrimento de matérias como inglês e até RPG em alguns casos.
Segundo o site do Ministério da Educação (MEC) “ A mudança tem como objetivo garantir a oferta de educação de qualidade a todos”, mas isso está longe de ser uma realidade no Brasil, e, com o NEM, a situação só piora. Se antes o EAD tinha criado uma barreira tecnológica entre a população rica e a população pobre, agora o problema se alia à falta de infraestrutura e auxílio do governo, além da falta de formação dos professores, que muitas vezes, são obrigados a lecionar matérias para as quais não tem preparo, por causa da falta de recursos. esses fatores só contribuem para a elitização da educação, fazendo com que seja muito mais difícil para um aluno de rede pública ou de um colégio indígena ou quilombola tirar uma nota razoável em algum vestibular.
O problema do Novo Ensino Médio não é que a ideia dele não seja boa. Grande parte da população apoia o conceito de o aluno poder escolher seu próprio caminho, porque isso é bom. Mas o que acontece é que a maioria das escolas foi deixada à própria sorte nesse processo, sem auxílio e sem verba. E isso faz com que grande parte da população não tenha esse protagonismo, não tenha as escolhas que o NEM propõe. O problema do novo modelo não são os itinerários formativos, mas sim que eles estão sendo introduzidos em detrimento da educação básica de uma parcela enorme de pessoas, sem levar em consideração instituições educacionais nesse processo.
Agora, em 2023, o governo Lula suspendeu a implementação por um prazo de 60 dias, com o objetivo de reavaliar os danos causados durante o processo de adaptação. Mas quando a educação de milhões de alunos é colocada na balança, qual é o melhor caminho: uma segunda tentativa ou a revogação total?