Consequências da expansão de crédito artificial ou bancário na economia
Por Matheus Carvalho
Um dos temas bastante recorridos por políticos, para a prosperidade econômica, é a expansão de crédito bancário que, como defendido por eles, desenvolve o consumo e aquece a economia.
Para analisarmos as consequências desse tipo de intervenção, primeiro analisa-se o que é credito e como ele se relaciona na economia. Em teoria, isso é o que diz os manuais de economia e até mesmo de direito —, o banco serve de intermediário entre o poupador e o investidor. Um banco captaria um depósito de um cliente; o poupador, e emprestaria o valor para um empreendedor. Para fazer isso, o banco emitiria um título prometendo pagar uma determinada taxa de juros Y. O poupador compraria esse título. Ato contínuo, o banco emprestaria o dinheiro assim obtido para um empreendedor que necessitasse de financiamento, concedendo-o credito. O banco cobraria deste empreendedor uma taxa de juros X, com X sendo maior do que Y. Esta diferença entre a taxa de juros que o banco paga para captar recursos e a taxa de juros que ele cobra para emprestar, chama-se spread, e ela seria a principal fonte de receita dos bancos.
Neste modelo, os bancos atuariam como genuínos intermediadores financeiros. Mais ainda: eles estariam agindo como empreendedores alertas às oportunidades e atentos a todas as eventuais descoordenações do mercado.
Neste caso, como os empréstimos feitos pelos bancos estão vindos de uma poupança real que estaria apenas sendo transferida de um indivíduo para o outro, diz-se que está havendo a criação de crédito real. O crédito real é a base da acumulação de capital e do crescimento econômico. Exemplificando: um determinado individuo X retiraria o financiamento oferecido pelo banco, para investir em um empreendimento de sua escolha, como residências, empresas, mercado de ações e outras aplicações em busca de um retorno financeiro; ou melhor, meio de Vida. Contando com as suas ações futuras para quitar a dívida, já maior pelos juros. Esses financiamentos estimulam a economia e, por conseguinte, geram riqueza.
Ao observar esse efeito, vários políticos, a fim de se aproveitar de uma das características fundamentais do comportamento humano, o fato de que as pessoas dão mais valor a um bem de que possam dispor no presente do que a um mesmo bem que só esteja disponível no futuro, e se embasam no desenvolvimento ocorrido pelo financiamento de credito respaldado na poupança. Assim, anunciam seus programas milagrosos, que prometem o rápido aquecimento da economia, de expansão de credito emitindo meios fiduciários.
Mudanças na oferta monetária necessariamente ocorrem por meio da injeção de quantias novas de dinheiro em alguns pontos específicos do mercado. Essas adições de dinheiro novo à oferta monetária afetam o resto da economia através de um processo temporal e sequencial, em que o novo dinheiro criado é utilizado por cada indivíduo e por cada grupo de ofertantes e demandantes que vão recebendo esse novo dinheiro ao longo do tempo.

O resultado final é uma mudança no poder de compra geral, isto é, no valor do dinheiro. Porém, durante esse processo de mudança no poder de compra do dinheiro, a estrutura de preços relativos, salários e renda, bem como a alocação de recursos por toda a economia, também são modificados. Mais ainda: se as injeções monetárias ocorrem através do sistema bancário, as taxas de juros são alteradas, e isso pode gerar um ciclo econômico.
E, é essa capacidade de criar crédito bancário, que gera o contínuo aumento da quantidade de dinheiro eletrônico na economia, bem como suas inevitáveis consequências: inflação de preços e ciclos econômicos.
Ao emitir meios fiduciários, notas bancárias sem reservas em ouro ou contas-correntes, que não estejam sustentadas completamente por reservas em ouro, os bancos estão numa posição de expandir o crédito consideravelmente. A criação desses meios fiduciários adicionais permite lhes estender o crédito muito além do limite estabelecido por seus ativos e pelos fundos confiados a eles por seus clientes.
Eles intervêm no mercado, neste caso, como "ofertantes" de crédito adicional, criado por eles mesmos, e assim produzem uma redução da taxa de juros, que cai abaixo do nível no qual estaria sem essa intervenção. A baixa da taxa de juros estimula a atividade bancária. Projetos que não tinham sido pensados como "lucrativos" se a taxa de juros não tivesse sido influenciada pelas manipulações dos bancos, e que, portanto, não teriam sido levados adiante, podem ser iniciados. O estado mais ativo dos negócios leva a uma maior demanda por materiais de produção e por trabalho.
Os preços dos meios de produção e os salários dos trabalhadores aumentam, e o aumento dos salários leva, por seu turno, a um aumento dos preços dos bens de consumo. Se os bancos restringissem qualquer outra extensão do crédito e se limitassem ao que já haviam feito, o boom rapidamente pararia. Mas, os bancos não desviam de seus cursos de ação; eles continuam a expandir o crédito numa escala maior e maior, e os preços e os salários continuam a subir de forma correspondente.
Esse movimento ascendente não poderia, contudo, continuar indefinidamente. Os meios materiais de produção e o trabalho disponíveis não aumentaram; tudo o que aumentou foi a quantidade de meios fiduciários que pode fazer o mesmo papel de dinheiro na circulação de bens. Os meios de produção e o trabalho que foram desviados para novos empreendimentos tiveram que ser tirados de outros empreendimentos. A sociedade não é suficientemente rica para permitir a criação de novos empreendimentos sem tirar nada de outros empreendimentos.
Enquanto a expansão do crédito continuar, isso não será percebido, mas essa extensão não pode continuar indefinidamente, pois, se uma tentativa fosse feita de parar o movimento ascendente (e o colapso dos preços resultante) criando-se mais e mais crédito, um aumento de preços contínuo e ainda mais rápido resultaria. Contudo, a inflação e o boom podem continuar suavemente somente enquanto o público pensar que o movimento ascendente dos preços parará num futuro próximo. Logo que a opinião pública perceber que não há razão para esperar o fim da inflação, e que os preços continuarão a subir, o pânico se estabelece.
Ninguém quer manter seu dinheiro, porque sua possessão implica perdas maiores e maiores de um dia para o outro; todos correm para trocar o dinheiro por bens, as pessoas compram coisas que não têm nenhuma serventia para elas sem nem mesmo considerar o preço, apenas para se livrar do dinheiro. Esse é o fenômeno que ocorreu na Alemanha e em outros países que seguiram uma política de prolongada inflação e que ficou conhecida como o "voo para os valores reais". Os preços das mercadorias aumentam enormemente assim como as taxas de câmbio, ao passo que o preço da moeda doméstica cai até quase zero. O valor da moeda é destruído, como foi o caso na Alemanha em 1923.
Se, pelo contrário, os bancos decidissem parar a expansão do crédito a tempo de prevenir o colapso da moeda e se um freio for assim colocado no boom, rapidamente se verá que a falsa impressão de "lucratividade" criada pela expansão do crédito levou a investimentos injustificados.
Muitos empreendimentos ou práticas de negócio que foram iniciadas graças à baixa artificial dos juros, e as quais foram sustentadas graças ao aumento igualmente artificial dos preços, não mais parecem lucrativas. Algumas empresas diminuem suas escalas de operação, outras fecham ou vão à falência. Os preços entram em colapso; crise e depressão se seguem ao boom. A crise e o período seguinte de depressão são a culminação do período de investimentos injustificados criado pela extensão creditícia.

Os projetos que devem suas existências ao fato de que eles pareciam "lucrativos" nas condições artificiais criadas no mercado pela extensão do crédito, e o aumento dos preços que resultou dele, deixaram de ser "lucrativos". O capital investido nesses empreendimentos é perdido na medida em que estão presos a eles. A economia precisa se adaptar a essas perdas e à situação que elas trazem. Neste caso, primeiro, deve-se restringir o consumo e, economizando, construir novos fundos de capital para fazer com que o aparato produtivo se adapte às verdadeiras demandas, e não às demandas artificiais que nunca poderiam se manifestar e serem consideradas reais, exceto como uma consequência do falso cálculo de "lucratividade" baseado na extensão do crédito.
Assim, a economia não recomenda políticas inflacionárias nem deflacionárias. Não instiga os governos a se imiscuírem na escolha do meio de troca feita pelo mercado. A economia apenas proclama as seguintes verdades:
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Um governo, ao adotar uma política inflacionista ou deflacionista, não está promovendo o bem-estar do público, o bem comum ou os interesses da nação em geral. Está meramente favorecendo um ou alguns grupos da população à custa de outros grupos.
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É impossível saber previamente que grupos serão favorecidos por uma específica medida inflacionária ou deflacionária, e em que extensão. Esses efeitos dependem do conjunto de circunstâncias do mercado considerado; dependem também, em grande medida, da velocidade do movimento inflacionário ou deflacionário e podem sofrer uma total reversão no curso desses movimentos.
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Em qualquer grau, uma expansão monetária resulta em investimentos malbaratados e exacerbação do consumo. A nação, como um todo, fica mais pobre e não mais rica.
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Uma inflação continuada acaba provocando uma alta desastrosa e a completa ruína do sistema monetário.
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A política deflacionária é onerosa para o Tesouro e impopular junto às massas. Por outro lado, a política inflacionária é vantajosa para o Tesouro e bastante popular entre os ignorantes. Na prática, o perigo da deflação é apenas ligeiro, enquanto o perigo da inflação é enorme.