O silêncio fala
Prof. Daniel Rocha
Quando pensamos no silêncio, frequentemente, o associamos à ausência de sentido, ao vazio ou à solidão. Mas durante um retiro de meditação, percebi que o silêncio pode ser repleto de reflexões, ensurdecedor e profundamente conectivo. E, no último fim de semana (26), quis me aprofundar nele.
Em busca de desacelerar e recarregar minhas energias, participei de um retiro de três dias oferecido pela Sociedade Vipassana de Meditação, aqui em Brasília. O tema? " Felicidades Transitórias E Felicidade Duradoura. Compreendendo E Cultivando O Sentido Da Vida". A regra? Nobre silêncio. Sem conversas, sem celulares, sem relógios e até mesmo sem livros. Apenas eu, minha mente e o momento presente. Tudo isso intercalando práticas meditativas, palestras, perguntas e respostas, momentos para refeições e descanso.
Engana-se quem pensa que foi fácil. No início, minha mente era um turbilhão, na sexta-feira (26) à noite, a primeira meditação mais parecia uma caixa amplificadora dentro da minha mente: o som de um sapo fora da sala puxava a biodiversidade... Biologia!? Nossa, a professora de Biologia sai do 6º ano antes de mim, na segunda-feira, e essa turma conversa muito depois da educação física... Física? Preciso voltar pra academia, pera... ah é, me perdi, vou voltar o foco pra minha respiração. Mas, à medida que o tempo avançava e as palestras do retiro iam dando mais técnicas para a prática, comecei a me aprofundar em um espaço de pura presença. Foi sensacional entender que a mente não está apenas em nosso cérebro, mas em cada célula do corpo: cada sentir, cada reagir compõe o todo. Quando conseguia, em pequenos (sério, pouquíssimos) momentos, sintonizar cada parte minha com o momento presente, uma paz incomparável me envolvia.
Para além da prática de meditação, e da comida MARAVILHOSA, o que mais me pegou no retiro foi a reflexão sobre o que escolhemos cultivar em nossas vidas. Ainda que pareça clichê, conversa de avô, todas as sementes que plantamos hoje, por escolha consciente ou não, seja em nossos corações, mentes ou ações, determinarão a colheita de amanhã. E não há como fugir dessa relação, é a causa e efeito na sua forma mais pura.
Como professor, isto me levou a ponderar: que sementes estou plantando em minha sala de aula? Estou incentivando meus alunos a cultivar empatia, compreensão e autoconhecimento? Ou estou, sem querer, plantando sementes de apatia, desinteresse e desconexão? E com meus amigos? Com meus familiares e, principalmente, quais sementes tenho escolhido plantar em mim? Às vezes a gente se esquece de incluir nós mesmos nessas contas.
É fato que vivemos em um mundo que parece exigir cada vez mais de nós. Mas, acredito, e esta experiência reforçou, que temos a capacidade interna de acolher estes desafios, analisar a nossa realidade e, acima de tudo, escolher sabiamente as sementes que desejamos plantar, as batalhas que queremos travar, o lugar para onde encaminhar nossa limitada energia. Por mais que não esteja claro na maioria das vezes, nosso tempo, energia e vida são limitados por aqui.
Finalizo com um convite prático: começar a experiência de introspecção pode ser mais simples do que se imagina. Experimente comer com atenção plena. Na próxima refeição, silencie os aparelhos eletrônicos, diminua a conversa com quem estiver ao redor e comece sentindo o peso dos talheres em suas mãos, observando as cores no seu prato e os cheiros. Ao provar cada garfada, identifique os sabores, sinta as texturas e aprecie cada momento da refeição. Esse pode ser um pequeno passo (com grande potência) para a prática da atenção plena. A cada dia, ao escolher cultivar essa consciência plena em atividades rotineiras, você pode se ver plantando sementes de presença, compreensão e conexão. E lembre-se: o que você decide plantar hoje, colherá amanhã. Escolha com sabedoria.