Entrevista sobre o dia do livro infantil com professora Janete e com a bibliotecária Hellen
Por: Gabriela Cavalcanti
Ler é uma atividade que se faz diariamente presente em nossas vidas. Cada indivíduo possui uma afinidade diferente com a leitura e é fato que a maior parte das pessoas tem seus primeiros contatos com a literatura na infância. Por isso em comemoração ao dia Internacional do livro-infantil (02/04) nós do jornal "Sigmahoje” entrevistamos pessoas do nosso corpo docente que detém propriedade para falar do assunto: a professora do 1 ano AM do Ensino Fundamental Anos Iniciais, Janete Cardone, e a bibliotecária Hellen Gomes.

Nas fotos, respectivamente, Janete e Hellen
Foto: Camila de Lima
Pergunta: Trabalha com crianças há quanto tempo?
Resposta de Janete: Tenho, no momento, vinte e três anos de magistério (atuando diretamente com crianças, da Educação Infantil ao Ensino Fundamental I). No Sigma, a minha história inicia em 2015, com uma pausa em 2016, um retorno em 2017 até o momento.
Resposta de Hellen: Desde a graduação, tive experiências em escolas. Atuo em bibliotecas há 6 anos, mas meu maior tempo em biblioteca focada em crianças é há 1 ano, aqui no Sigma.
P: Qual a sua percepção sobre o efeito da leitura nas crianças?
J: A leitura é um direito indispensável em nossas vidas. Por meio dela, nos “humanizamos” com narrativas de “outros” que nos permitem refletir e nos relacionar com e para além dessa leitura. É preciso respeitar a natureza das interpretações da prática de leitura, ao tratar das particularidades de cada sujeito.
H: É possível observar benefícios da leitura desde a vida intrauterina até a fase adulta. Quando os pais têm hábitos de leitura em voz alta para a criança ainda durante a gestação, seus filhos já nascem acostumados a serem ouvintes.Durante a primeira infância não é diferente, sendo observados benefícios relacionados à criatividade, ao senso crítico, ao autoconhecimento, à visão de mundo, entre outros.
P: Como dia 2 de abril também é dia da conscientização do autismo, de que maneira você percebe que os livros impactam a vida de crianças com TEA?
J: Como mencionei, a leitura é fundamental à todas as pessoas, inclusive crianças com TEA. A diversidade de modalidades de leitura, por exemplo, possibilita a inclusão de todos os sujeitos no ato de ler, assim como as práticas sociais de leitura que atendem aos leitores.
H: A leitura também é uma jornada de inclusão e diversidade. Portanto, para todas as crianças, em especial as que possuem TEA ou que estão eu outros cenários de neurodiversidade, os livros contribuem com as formas de expressão, com a socialização, além de estimularem o desenvolvimento cognitivo, da coordenação e da criatividade.
P: Na sua opinião, ilustrações são recursos importantes nos livros infantis?
J: As ilustrações “podem” completar a narrativa ou não. Ir além do “escrito”. O livro-álbum, por exemplo privilegia as imagens em suas histórias. O que permite várias camadas de interpretações a cada leitura realizada. Tudo depende do propósito dessa leitura, no ambiente escolar.
H: Enxergo as ilustrações com um papel muito importante na literatura infantil. Ela atrai as crianças para o hábito da leitura. Primeiro, a criança se diverte com os desenhos e visualiza as narrativas por eles. Posteriormente, ela imerge no texto escrito, construindo assim um “movimento” para essas imagens. Livros ilustrados, portanto, são recursos potentes para engajar e trazer as crianças para mais perto da mensagem que está sendo transmitida.
P: Para você, o papel dos pais e responsáveis na influência e incentivo à leitura na infância é importante?
J: A família também necessita ter o hábito de ler, pois com os estímulos e incentivo, as crianças acabam percebendo como é bom ler e conversar sobre o que se lê. Mas não só as famílias, podem ser exemplo, como os professores também. Toda a comunidade necessita envolver-se com a literatura, comentar sobre o que está lendo, visitar livrarias, sebos e escolher bons livros. Somos exemplo na formação desses leitores “menos experientes”, essa é a nossa maior contribuição, nosso legado.
H: Como consta no famoso dito popular: “A palavra convence, mas o exemplo arrasta!”. Ao ver os hábitos de leitura dos pais, a criança também se enxerga em uma posição de valorização dos livros. Os pais que são leitores ou que foram leitores na infância, normalmente também terão filhos leitores. Ainda que não sejam bons leitores, os pais podem desenvolver esse hábito junto dos filhos como um momento de vínculo familiar, que também trará os outros diversos benefícios que a leitura traz.
P: Recomendações de livros para os pequenos?
J: Todos os livros de Anthony Browne, Eva Furnari, Ilan Brenman, André Neves, Shel Silverstein, Lalau e Laurabeatriz, Odilon Moraes são os que lembro... Mas temos muitos autores de excelência. Um bom local para buscar essas referências é no site da Revista Emilia. Lá é possível encontrar várias indicações dos melhores livros do ano, entre outros temas relacionados a literatura.
H: Tenho algumas sugestões como:“É o monstro?”, Ciranda Cultural; “Olá, bebê!”, Ciranda Cultural; “Menina bonita do laço de fita”, editora Ática; “Monstro das cores”, Ciranda Cultural; “Amiguinhos do Zoo”, Editora Todolivro; “Marcelo, marmelo, martelo”, Editora Salamandra. Convido todos e todas a visitarem nossas bibliotecas para conhecer esses e muitos outros livros encantadores e que realmente nos fazem viajar para vários mundos incríveis através da leitura!
P: Alguma sugestão para tornar a literatura infanto-juvenil mais acessível?
J: Iniciar é um ponto importante em qualquer processo. Visitar bibliotecas, livrarias, sebos... Participar de clube de livros, hoje encontramos muitos clubes em formato virtual. Trazer a literatura para nossas “rodas de conversa”, mudando velhos hábitos, ressignificando-os. Como nos diz Saramago (1997, p.41): “Que é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não saímos de nós, Se não saímos de nós próprios, querer tu dizer, Não é a mesma coisa.”
Que possamos “sair de nós mesmos” para ver a potência da literatura em nosso cotidiano.
H: Acredito que todas as escolas deveriam estimular os hábitos de leitura e manter bibliotecas como as do Sigma, sendo espaços encarados como uma extensão da sala de aula, onde já sempre projetos em curso que tanto trazem as histórias para fora dos livros quando levam as crianças para dentro dos contos. No caso da educação pública, a união de investimentos governamentais com doações particulares também potencializar as forças das bibliotecas, ampliando as suas possibilidades de alcance. Nesse cenário, as bibliotecas móveis também são uma ferramenta poderosa, pois leva a leitura a áreas mais remotas e de difícil acesso.
Portanto, diante das respostas das entrevistadas, podemos perceber que, mesmo com visões diferentes dos benefícios da leitura, ela é sim essencial para o desenvolvimento cognitivo e social de todas crianças.