Bergamota

"Você é para mim..."— digo isso titubeante, enquanto olho em seus olhos cor-de-uva — "você é para mim..." — repito mais uma vez, gaguejando em vocábulos perplexos que só você entenderia. Tomei coragem e disse:

— "Você é para mim uma bergamota descascada em formato e exatidão de uma flor de Lótus, laqueada em branco por sua áurea etérea." 

Não mais que risonho, ele se aproxima de mim. Meu coração batia demasiadamente forte.

Por um momento, assim como nos movimentos de dinâmica, a aceleração zerou, e, com isso, a velocidade cardíaca se mantinha constante à medida que ele se aproximara.

Pude sentir meus olhos fecharem com certo cansaço, que esperavam aquele momento mágico (da qual, até então, eu só tinha presenciado em poemas trovadorescos). Você clamava sabiamente para eu fechá-los, sem ao menos gesticular, mas eu entendia seu recadinho.

À constância que o sangue percorria em meu corpo, era como se eu pertencesse à outro plano. Não tinha gravidade, nem altitude, muito menos pressão atmosférica. 

A maré que eu sentia em meus pés era fruto de um homem que, em suas palavras, eu era a Jasmine de um jardim celestial.

De fato, finalmente, quando encosto meu lábio no seu, aquela chama de fervura já não era mais cinzenta, ou barroca. Na verdade, era celestial, divina, perfeita. Com aquele beijo, eu selava meu pacto com o divino.

O fim chegou, e junto dele, a minha lembrança: "deixe sua alma voar", como dizia Javier Sierra. 

Respirando de forma calejada, despeço-me com um semblante beatífico, assim como o teu.

Entrei no portal que me aguardara enquanto a tragicomédia acontecia, e meu amado humano, cujo corpo era lindo, despedir-se-ia de mim com certa alegria e temor. 

Nunca mais nos vimos, mas ainda falo com essas memórias. Temos nosso próprio dialeto: a saudade.

Bergamota, também conhecida como mexerica ou tangerina.

(nat.) Rebekah O’ Donneal